quinta-feira, 9 de julho de 2015

Mimo 102º


Epidauro

Contra o céu de Epidauro, enquanto o grito
Dos pássaros nocturnos fere o ar,
Eu, acordando, encontro o teu olhar,
Mais do que o céu sereno e infinito.

Sobre o calor das pedras eu repito
Aquele deslumbramento de acordar
Que alguma outra mulher, neste lugar,
Num outro tempo de palavra e mito

Junto ao corpo do amado conheceu,
Igual. Ou quase igual. Que um tal desejo
Essa outra mulher o não sentiu

Se o corpo onde acordou não era o teu.
Contra o céu de Epidauro acordo e vejo
O mais divino olhar que alguém já viu.