Corifeu
Saudamos-te, ó rainha, a primeira entre as mulheres da Pérsia, mãe de Xerxes, viúva de Dario, tu que partilhaste o leito do deus dos Persas, que puseste no mundo um deus. Oxalá nossa antiga sorte possa agora também acompanhar o exército de teu filho.
Eis porque deixo a soberba morada e o leito em que outrora recebi Dario; sinto a alma roída de cuidados. Amigos, estou, no íntimo receosa. Nossas excessivas riquezas podem se esgotar; a base do poder que Dario, não sem a ajuda dos deuses, ergueu, pode ruir. Dupla e inexprimível inquietude me enche o coração. Tesouros sem súbditos que os defendam, de nada valem; e, sem tesouros, dias não há de esplendor sem sequer para o mais forte estado. Nossas riquezas acham-se intactas; mas receio pela alma deste palácio; pois a alma de uma casa é o seu dono. Na aflição em que me encontro, aconselhai-me, ó persas, fiéis anciãos, só de vós espero palavra animadora.
Corifeu
Rainha, não duvideis; uma palavra de vós é quanto basta. De nós disponde. Estais consultando aqueles cujo coração vos pertence.
Os Persas de Ésquilo