sábado, 28 de novembro de 2009

regalos XXXVII


Nos lençóis desta semana

dez asas de formiga são ábaco

de areia dedos lábios

oito manchas de amor directo

quatro ais que definham em poente

surdo de arder por dentro

na hora em que nos comemos

no halo branco dos pátios

e o violino vibra as cordas

de pavões enrouquecidos

fodemos na visão íntima de uma praia

tu gravas-me no braço versos felizes

versos que te dou em palavras de carne

pelo corpo magnânimo se espalha

o teu novo poema espumado

e posso finalmente roer o véu à tarde

e rir ao chegar o cadafalso

a teu lado num quinteto intacto de ursos

vejo no ar o trágico o natural

o caloroso fundo do teu corpo

abre à minha boca a corola provençal

Miguel C.