(Povoação - S.Miguel, 30 Julho'11)
O mar é uma espada inumerável e uma plenitude de pobreza.
A labareda é traduzível em ira, o manancial em tempo e a cisterna em clara aceitação.
O mar é solitário como um cego.
O mar é uma antiga linguagem que já não consigo decifrar.
Na sua profundeza, a alba é um humilde muro caiado.
Dos seus confins surge um clarão, como um halo de fumo.
Impenetrável, de pedra lavrada,
insiste o mar durante os muitos dias.
Cada tarde é um porto.
O nosso olhar flagelado de mar vai pelo céu:
Última praia suave, celeste argila das tardes.
Que doce intimidade, a do ocaso no arisco mar!
Claras como uma feira brilham as nuvens.
A lua nova enredou-se num mastro.
A mesma lua que deixámos sob um arco de pedra e cuja luz brindará os salgueirais.
No convés, tranquilamente, partilho a tarde com a minha irmã, como um naco de pão.