terça-feira, 6 de maio de 2008

regalos XXIV


CXXVI. o homem enfermo


O ruído das asas do dicionário ouvia-se no desassossego da casa.

(...)
"Eu digo, em borboleta:

__Eu sou uma borboleta. Mas queria ter um sabor breve dos sentimentos humanos. É, de toda a evidência, uma cabeça humana que me está a pensar, o que não impede que o que aqui fica escrito seja o sentido da minha alma de borboleta que defronta a criatura humana que me está a ver__essa, que nunca quereria ser caçadora de borboletas,

mas cantora de leitura,
como já é cantora de escrever.
Se os cantores de leitura me admitirem no interior da sua voz, como a voz com que lêem lhes dirá que admitam, eu vacilarei entre ser e não ser da mesma espécie. Preciso de estudar, perto e longinquamente, sobre mim mesma__e a sua perda. A minha vida é arriscada e breve."


O fogo do luar libidinal é isto.


Amigo e Amiga - Curso de Silêncio 2004, Maria Gabriela Llansol