sábado, 17 de outubro de 2009

consolos XLI


(...) Consideramos belo aquilo que é realizado com saber, com qualidade, com técnica. Aquilo que é verdadeiro, belo e bom. mas também consideramos belo aquilo que nos traz reflexos da nossa memória: sucessivas camadas onde reconhecemos todas as imagens que trazemos dentro de nós vindas de longe, talvez da infância. A nossa biografia pessoal é a história de uma memória capaz de condicionar a nossa visão do mundo e o nosso futuro num permanente trabalho de recordar. Mas nunca sabemos onde a beleza irá aparecer: por vezes surge onde e quando menos esperamos, outras vezes aguardamo-la e ela não aparece. A beleza ataca de surpresa quem souber estar atento e disponível para o que nos rodeia. A arte pode ser uma verdade inesperada. (...)

Se fosse possível movermo-nos mais devagar, contrariar a velocidade em que acreditamos ter de estar submersos, seria talvez possível ver em vez de olhar. A intensidade da experiência do nosso mundo só poderá ser conseguida através do tempo, o tempo que nos permite reconhecer aquilo que nos é estranho.(...)

O tempo é o nosso único amigo.

Rui Chafes no catálogo da escultura Parar o Tempo